Cuidador informal - conflito interno

Cuidadores Informais: conflitos internos e aceitação de terceiros

In Psicologia adultos por Romina Pereira

Cuidar do outro sempre fez parte da condição humana, permitindo a sua sobrevivência e evolução, mas nem por isso esta pode ser considerada uma tarefa fácil. Atualmente, existem em Portugal cerca de 15 000 cuidadores informais, cerca de 9000 são mulheres, com idades compreendidas entre os 50 e os 60 anos. Constatando-se que os cuidadores informais demonstram conflitos internos no que toca à aceitação de ajuda por parte de terceiros.

Mas de quem cuidam estes cuidadores informais?

Segundo o Estatuto de Cuidador Informal previsto na Lei nº100/2019, de 06 de setembro a

pessoa cuidada [é] quem necessite de cuidados permanentes, por se encontrar em situação de dependência

Cuidam não só de idosos mas também de adultos, crianças e jovens com graus de dependência e incapacidade elevadas, em situação de doença prolongada, sejam elas perturbações do neurodesenvolvimento, doenças físicas ou mentais, oncológicas, degenerativas, entre outras ou em situação de fase de doença transitória em que se justifique a prestação de cuidados.

Laço familiar e o conflito interno dos cuidadores informais

Os cuidadores informais, por norma são pessoas próximas da pessoa cuidada, maioritariamente são familiares, o que acaba por gerar um maior e mais rápido nível de desgaste emocional, em resultado da assistência prestam, seja ela a tempo parcial ou a tempo integral. Apesar de, no artigo 5º do Estatuto de Cuidador Informal, prever como direitos:

Usufruir de apoio psicológico dos serviços de saúde, sempre que necessário, e mesmo após a morte da pessoa cuidada” ou a “Beneficiar de períodos de descanso que visem o seu bem-estar e equilíbrio emocional”,

a realidade do cuidador informal muitas vezes não o permite.

Saúde do cuidador informal em risco

Os dados são preocupantes, alertaram para consequências emocionais graves associadas ao processo de cuidar, pelo que os desafios psicológicos dos cuidadores informais devem ser tidos em consideração, não só pelo risco de sofrimento do próprio cuidador, como também pelo comprometimento da qualidade dos cuidados prestados a quem deles necessita.

Burnout-exaustão emocional
Burnout-exaustão emocional

Em 2023, foi realizado um inquérito a nível nacional pela Merck, com o apoio do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais – Saúde Mental e Bem-Estar nos Cuidadores Informais em Portugal, que confirmou que 83,3% dos cuidadores informais se sentiram em estado de Burnout/exaustão emocional em algum momento do seu processo de prestação de cuidados.

O desgaste associado à prestação de cuidados de forma prolongada, contribui para o sentimento de exaustão emocional do cuidador, como resultado de esforços físicos, emocionais, sociais e, frequentemente, também económicos, que resultam em sintomas diversos como: mal-estar emocional (raiva, tristeza, desesperança, solidão, ansiedade, irritabilidade, isolamento social, irritabilidade…), que contribuem para a exaustão do cuidador principal.

A importância dos cuidadores formais no processo

Cuidadores formais
Cuidadores formais

Desta forma, faz sentido alertar-se para a necessidade e contribuição do cuidador secundário, sendo este definido como:

Quem acompanha e cuida de forma regular, mas não permanente da pessoa cuidada

A articulação com meios formais de prestação de cuidados, pode trazer algum alívio à sobrecarga experienciada pelo cuidador principal, auxiliando na execução de atividades de vida diárias, tais como os cuidados básicos de alimentação, higiene e saúde.

A cooperação entre os cuidadores formais e informais é fundamental para promover o equilíbrio entre a prestação de cuidados e a vida pessoal do cuidador informal, permitindo-lhe uma gestão de tempo e recursos mais equilibrada à gratificação das suas necessidades pessoais.

Mas se por um lado, é importante esse equilíbrio na vida pessoal do cuidador informal, o desapegar das suas responsabilidades pode ser um processo difícil, sentindo que não o pode ou deve fazer, desconfiando da qualidade dos cuidados prestados por outros intervenientes, intensificando o sofrimento experienciado no ato de cuidar.

Atendendo a todas estas especificidades e à realidade sociodemográfica do nosso país, é urgente cuidar e dar suporte aos cuidadores informais, sendo o apoio psicológico uma ferramenta importante a considerar, para a promoção do seu bem-estar físico e psíquico.

Romina Pereira / Psicóloga e Psicoterapeuta © Psicoajuda – Psicologia certa para si, Leiria

Imagens cortesia de freepick.com

Sobre o Autor

Romina Pereira

Psicóloga clínica e Psicoterapeuta na PsicoAjuda. Mestrado em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos.