Cuidador Informal

E se o cuidador informal não tratar de si próprio?

Em Psicologia adultos por Margarida Rogeiro

Cuidador Informal é alguém que cuida geralmente de um familiar próximo, que está temporária ou permanentemente doente ou dependente, numa atitude de grande nobreza e altruísmo, abnegação de si próprio, ao ponto de, por vezes, se “esquecer” das suas próprias necessidades.  Tal situação é, muitas vezes, geradora de um estado de desorganização psicossocial que contribui para a degradação da saúde e bem estar do cuidador informal. Porque também é alguém que necessita de ser cuidado!

Quem são os cuidadores informais?

A apresentação das Medidas de Apoio ao Cuidador Informal pelo Governo Português no passado dia 15 de Fevereiro de 2019 veio dar visibilidade aos milhares de cuidadores informais que existem em Portugal, que tantas vezes passam despercebidos, apesar de desempenharem um papel essencial para tantas pessoas que necessitam de ajuda e que delas dependem diariamente.

Quem são os cuidadores informais? Cuidador, tal como a origem da palavra indica, é alguém que tem como tarefa cuidar de outro que esteja temporária ou permanentemente doente/dependente. As principais tarefas inerentes à função de cuidador são aquelas que os sujeitos dependentes já não conseguem fazer autonomamente. São tarefas que envolvem trabalho doméstico, financeiro, administrativo, de suporte emocional e, principalmente, de companhia. O cuidador torna-se, então, responsável por facilitar a execução dessas funções, em que se inclui a alimentação, higiene pessoal, gestão da medicação e o acompanhamento aos serviços de saúde para aplicação de tratamentos. 

De acordo com o investigador Scott Williams, existem mais de 100 milhões de cuidadores só na Europa. Apesar deste número ser tão significativo, muitas das vezes são elementos esquecidos na nossa sociedade, sobretudo por se focarem na pessoa ao seu cuidado. Mas, de acordo com o mesmo investigador, os cuidadores têm um papel essencial na sociedade, principalmente ao nível dos cuidados de saúde, pois são de uma grande ajuda não só para as pessoas a seu cuidado, como também para os próprios profissionais de saúde, uma vez que conhecem bem a condição de saúde do paciente em questão, por vezes até melhor que ele próprio. Estas pessoas ajudam bastante no tratamento das pessoas ao seu cuidado, o que requer muito tempo e responsabilidade.

Diferentes tipos de cuidadores

Para se ser cuidador não é necessário ter formação específica, mas é condição essencial ter um sentimento de obrigação e devoção à tarefa de cuidar. No entanto existem aqueles que detêm formação e exercem as funções por motivos profissionais, sendo esta a principal diferença entre cuidadores informais e formais. Mas as diferenças não se cingem apenas a isso, tendo também implicações muito diferentes na vida do próprio cuidador. Tendo em conta estas implicações, torna-se importante analisarmos estas diferenças na próxima tabela.

Diferença entre cuidador informal e formal
Diferença entre cuidador informal e formal

Pontos fortes dos cuidadores informais

Os cuidados informais estão intrinsecamente relacionados com as ideais existentes na sociedade acerca da família, em que as expectativas são de que cada elemento pertencente à família deve cuidar do outro, do mesmo modo que o outro cuidaria de si, sendo visto muitas das vezes como uma obrigação.

Por vezes, os cuidadores entregam-se a este papel, porque são percecionados pelos outros membros da família como estando mais próximos ou mais aptos para prestar tal tarefa ou simplesmente por disporem de mais tempo livre. Mas, como esta tarefa é bastante exigente para o cuidador informal, para além da obrigação está presente um sentimento de empatia e dedicação ao dependente.

No geral, os cuidadores informais consideram que executam o seu papel de cuidador de modo gratificante sentindo-se, inclusivamente, muito satisfeitos com a função de cuidar. No entanto, quanto maior é a sobrecarga sentida pelo cuidador informal, pior é a sua perspetiva relativamente à execução da sua tarefa.

Ao lidarem com este papel, os cuidadores informais devem ganhar caraterísticas adaptativas uma vez que a sua função varia consoante as necessidades e condição do dependente e isso pode implicar mudanças constantes. A adaptação pode ser feita de diferentes maneiras, ou, seja, o cuidador informal mobiliza as suas estratégias de coping que perceciona mais adequadas para lidar com a nova situação presente. Dependendo das estratégias de resolução de problemas usadas pelo cuidador informal, assim vai ser a resposta ao problema. As reações dos cuidadores informais podem, então, conduzir a uma adaptação positiva, ou a um ajustamento negativo. Neste ultimo caso pode denotar repercussões emocionais negativas e pouco saudáveis para a vivência do cuidador informal com o dependente a seu cuidado.

Cuidador Informal com stress
Cuidador Informal com stress

Cuidadores informais podem sofrer de um estado de desorganização psicossocial

Os cuidadores informais são geralmente considerados apenas como “recursos”, não se tendo em conta as suas necessidades e problemas específicos, os quais muitas vezes resultam precisamente da prestação de cuidados a alguém que se encontra dependente dos mesmos. Alguns investigadores denominam os cuidadores informais de “pacientes ocultos”, visto que também precisam de ajuda para melhorar a sua própria saúde e bem-estar, só que encontram-se em segundo plano atrás do seus dependentes.

Os resultados do estudo realizado com cuidadores informais de Cali na Colômbia indicam as principais preocupações identificadas na função de cuidar e que se resumem a enfrentar o presente e planear o futuro. Ao enfrentar o presente, os cuidadores informais lidam com os principais problemas do dia-a-dia. Quanto ao planeamento do futuro, os cuidadores informais têm como necessidade prioritária definir os meios para manter a qualidade de vida dos seus entes dependentes, caso a saúde dos mesmos se deteriore. É uma situação geradora de ansiedade e stress constante.

Há que lembrar que o cuidador informal continua a ter uma vida pessoal, laboral e social. Só que o desempenho do seu papel de cuidador informal interfere em todas estas vertentes e é geradora de conflitos. O modo como o cuidador informal lida com esses conflitos é essencial para perceber como ele realiza a sua função e, também, quais as suas principais dificuldades e ganhos como prestador de cuidados.

Perante esta situação e havendo falta de estratégias de resolução dos problemas mais imediatos, o cuidador informal fica sujeito a um estado de desorganização psicossocial que implica medo, culpa, ansiedade, stress e, inclusivamente, sentimentos negativos em relação ao sujeito com deficiência.

As dificuldades assinaladas pelos cuidadores informais devem ser tidas em conta pela sociedade, disponibilizando ajudas para o próprio cuidador informal. Porque também é alguém que necessita de ser cuidado! Neste sentido, a aprovação das Medidas de Apoio ao Cuidador Informal pelo Governo Português é uma iniciativa muito positiva, para ajudar a “peça” essencial na prestação de apoio à população/comunidade.

Mas só essa medida não é suficiente. Por vezes, é necessária a ajuda de um profissional em psicologia clínica. Na PsicoAjuda disponibilizamos de um serviço adequado às dificuldades sentidas pelo cuidador informal, nomeadamente instabilidade emocional e desorganização psicossocial. Os nossos serviços têm em vista a possibilitar de estabilizar e maximizar os recursos emocionais para a eficaz execução da nobre tarefa de cuidar de uma pessoa dependente, de modo a estimular a felicidade e bem-estar de ambos.

Ana Margarida Rogeiro / Psicóloga e Psicoterapeuta

© PsicoAjuda – Psicoterapia certa para si, Leiria

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Sobre o Autor

Margarida Rogeiro

Psicóloga clínica e Psicoterapeuta na PsicoAjuda. Mestrado pós-Bolonha em Psicologia Clínica e da Saúde pela UBI. Membro da Ordem dos Psicólogos.