Agora mesmo, sem que seja do seu conhecimento, poderá estar a ser vítima de uma campanha de terror psicológico desencadeado pelos seus colegas de trabalho. Trata-se de Bullying no trabalho, também conhecido por assédio moral ou mobbing.
No seu emprego, mexericos e insinuações poderão estar a propagar-se nas suas costas sem que tenha consciência disso. Mesmo colegas anteriormente leais poderão juntar-se à onda de difamações, fornecendo informações pessoais com a intensão de confirmar os rumores negativos. Os seus colegas estarão a tentar ridiculariza-lo e por em causa a sua competência com o objetivo de destruir a sua reputação profissional!
E as estatísticas sobre este fenómeno não deixam qualquer dúvida: Bullying no trabalho está a atingir proporções epidémicas!
Estatísticas de Bullying no emprego
Em Portugal, uma sondagem realizada pela Intercampus em 2013 e publicada pelo Publico, mostra que um em cada quatro portugueses conhece uma vítima de bullying. Segundo alguns estudos, estima-se que pelo menos um terço dos casos de bullying são ocorrências no local de trabalho. Estes dados confirmam um estudo europeu efetuado em 2011 em que Portugal apareceu em segundo lugar no ranking dos países onde existe uma maior preocupação com o bullying no trabalho.
Um artigo publicado esta semana nos Estados Unidos no site “Psychology Today” salienta que naquela região o Bullying no trabalho está a atingir proporções epidémicas. No mesmo sentido apontam as estatísticas de um relatório publicado em 2012 pelo governo australiano, com o título “Por detrás das estatísticas alarmantes do Bullying no local de trabalho”, em que refere um aumento de 70% de queixas de Bullying no trabalho nos últimos 3 anos; mais ainda, duas em cada três pessoas testemunharam atos de Bullying, mas não fizeram nada. Esse mesmo relatório assinala que por cada caso denunciado de Bullying calcula-se que 8 a 20 casos não são reportados. Dai se concluir que é de fato um problema que afeta uma enorme percentagem dos trabalhadores!
Ambiente tóxico na empresa propicia o Bullying no trabalho
É muito comum a pessoa que procura superar as expetativas e evoluir profissionalmente acabar por sofrer represálias por parte dos colegas que tentam denegrir a sua imagem, pois elas visam sabotar o seu sucesso profissional. Normalmente a vítima de Bullying no trabalho é competente, resiliente, franca, desafia o status quo, é mais empática ou atrativa e geralmente é mulher, entre 30 e 55 anos.
O alvo de Bullying no trabalho é sujeito a situações de humilhação, ridicularização e eventualmente a ser afastado do seu local normal de trabalho. Os efeitos incidem na família, amigos e até mesmo afeta a comunidade em que se insere a vítima.
Essas atitudes estão em crescimento em muitas organizações e, muitas vezes, são as próprias empresas a criar um ambiente que propicia o Bullying no trabalho. Em muitos casos, as chefias permitem esses comportamentos, escolhendo não agir, e mesmo recusam chamar o comportamento abusivo de “bullying”.
É um fenómeno psicossocial comum que acontece mais frequentemente em situações de crise. Restruturações, mudanças de chefia fazem com que surjam mais conflitos provenientes do medo, levando a situações de violência psicológica em contexto laboral. Podemos encontrar nessas empresas ambientes muito tóxicos e as dificuldades psicológicas devem-se à toxicidade destes contextos e à dificuldade em encontrar alternativas. As pessoas têm medo de perder o emprego e das mudanças que vão ocorrendo nas empresas.
Como o trabalhador é alvo constante de críticas, ele ou ela passa a ser visto pelos outros como a “ovelha negra” causadora de problemas, pelo que tende a ser ignorado ou marginalizado pelos colegas. Mesmo antigos aliados voltam-se contra o alvo e deixam-no socialmente isolado, pois pensam “bem, ele tem sido criticado pela chefia, tem que haver uma razão e eu não quero ser rotulado da mesma forma”.
Transtornos psicológicos do Bullying no trabalho
Como já referi, o Bullying no trabalho está a atingir proporções epidémicas. Isso mostram as estatísticas apresentadas e eu mesma constato esse aumento no número de pacientes que recorrem ao meu consultório com problemas psicológicos motivados por Bullying no trabalho.
Esses pacientes manifestam alterações físicas e emocionais, tais como, agressividade, irritação, desânimo, desespero, perda de objetivos, indiferença, sensação de inutilidade, passividade, cansaço constante, aumento da pressão arterial, alterações cardíacas, dores de cabeça.
O trabalhador, face à situação de enorme pressão psicológica, sente-se desconfortável, com mal-estar e entra em sofrimento. A diminuição da sua realização profissional influencia-o negativamente baixando a sua autoestima, pelo que o trabalhador acaba por se sentir infeliz consigo mesmo e insatisfeito quando ao seu desenvolvimento profissional.
Geralmente, a vítima de Bullying acaba por apresentar dificuldades psicológicas de depressão ou ansiedade generalizada. São problemas psicológicos sérios que requerem a ajuda de um psicológico clínico. A recuperação passa por um processo de psicoterapia, em que o psicólogo clinico ajudará o paciente a recuperar novamente a sua dignidade e identidade. Serão promovidos os recursos emocionais e cognitivos do paciente, de modo a que ele possa enfrentar melhor as situações do dia-a-dia.
Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta
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