Adolescentes Difíceis

Adolescentes difíceis, o que os pais devem fazer

Em Psicologia adolescentes por Elisabete Condesso

Algumas ações que os pais devem tomar quando têm filhos adolescentes difíceis e ambos se encontram presos numa interação comportamental negativa que parece não ter fim.

Adolescentes difíceis recorrem à linguagem exagerada para expressarem a sua frustração

Geralmente, durante a passagem para a adolescência, pais e filhos vivem momentos difíceis, e, muitas vezes, ficam dolorosamente presos no seu comportamento relacional negativo, agindo e reagindo repetidamente, de maneira a manter o problema ou até mesmo agravando-o.

O uso de linguagem exagerada, como por exemplo gritar “Odeio-te”, é uma forma dos adolescentes expressarem a sua frustração. Os “adolescentes difíceis” percebem a outra pessoa como fazendo “sempre” algo “errado” ou “nunca” fazendo nada “certo”. Nestas ocasiões, é frequente dizerem “o meu pai está sempre a chatear-me e nunca está satisfeito.” Também é comum os pais dizerem “o meu filho adolescente está sempre a discutir e nunca coopera”. Ambos recorrem à culpa, assistindo-se a um crescente aumento da intensidade emocional, em que torna-se difícil deslumbrar qualquer alívio da tensão.

Pais frustrados
Pais frustrados

Pais e filho adolescente têm responsabilidade conjunta no relacionamento

Perante este impasse, no sentido de melhorar a relação, muitas vezes, os pais têm que assumir a liderança, de modo a criarem um ambiente mais positivo. Uma forma é pensarem a sua relação como sendo uma “equação” expressa pela fórmula [Conduta do adolescente x Conduta dos pais = Interação entre eles], em que é obvio que ambos,  pais e adolescente, têm responsabilidade conjunta no relacionamento. Está é uma maneira simples de pensar a dinâmica relacional entre pais e adolescente e salienta a necessidade de ambos contribuírem de forma positiva para a relação.

No entanto, acontece com muita frequência, um dos lados atribui ao outro toda a culpa pelo que acontece na relação:  “É tudo culpa do meu filho adolescente por estarmos sempre a discutir!”, ou “É tudo culpa dos meus pais, porque nunca me deixam fazer o que eu quero!”. Nenhum dos lados se pode colocar fora da equação!

A atitude dos pais de culparem o adolescente pela tensão familiar, coloca-os fora da equação e, consequentemente, significa que perdem toda a influência no relacionamento. Se é culpa só do adolescente, então não há nada que eles possam fazer. Consequentemente, esta não é a forma como os pais devem agir. O adequado é assumirem o seu papel principal no relacionamento, agindo de forma ativa e com um comportamento positivo!

Para isso, devem responder à seguinte pergunta: “Como o nosso filho adolescente irá reagir à nossa conduta?”. O poder dessa questão é que ela concentra-se no que os pais podem controlar (o seu próprio comportamento) e aumenta a possibilidade de eles contradizerem positivamente a resposta (negativa) esperada pelo adolescente, alterando, assim, a dinâmica do relacionamento familiar.

Por exemplo, o adolescente espera a seguinte resposta negativa dos seus pais:

“Os meus pais vão criticar o meu desempenho”

Mas, os pais, contradizendo a espectativa negativa do filho adolescente, respondem positivamente da seguinte forma:

“Elogiamos o teu esforço e empenho”

Considere aqui mais alguns exemplos de como isso pode ser feito.

Resposta (negativa) esperada pelo adolescenteResposta parental positiva
Os meus pais vão-se afastar quando eu ficar chateadoOs pais expressam amor e dão-lhe um abraço
Os meus pais vão ficar com raiva de mimOs pais expressam preocupação por ele
Os meus pais vão ficar chateados quando eu fizer asneiraOs pais falam com uma atitude positiva sobre os seus erros
Os meus pais vão-se opor ao meu gosto pela músicaOs pais expressam interesse em ouvir as últimas músicas

Ao contradizerem positivamente a resposta (negativa) esperada pelo adolescente, os pais abrem a hipótese de uma nova dinâmica no relacionamento familiar. Agora o adolescente tem como resposta uma reação positiva dos pais. Assim, eles estão a eliminar a influência (negativa) das emoções na sua tomada de decisão.

Como escapar à armadilha das decisões emocionais e ter uma atitude mais positiva

As emoções são uma fonte de informação, mas muitas vezes são más conselheiras. Por exemplo, o medo pode levar um jovem a fugir de casa; a raiva pode aconselhar um pai a injustiçar o seu filho; a depressão pode aconselhar pais e filhos a não fazerem nada; ou a frustração de ambos pode aconselha-los a empurrarem com mais força contra o bloqueio na relação.

Jovem frustrado em fuga
Jovem frustrado em fuga

Pensar, influenciado pelos próprios sentimentos, irá distorcer o que se está a passar. Se seguirmos o que as emoções nos dizem naquele momento, podemos agir de forma a piorar a situação.

“Eu disse o que senti.”

Para escapar à armadilha da tomada de decisões emocionais, há uma poderosa pergunta que os pais devem formular.

“Se eu, neste momento, não estivesse com raiva ou ansioso, frustrado, triste ou ferido, como agiria?”

Em muitos casos, essa escolha é bem diferente da emocional, geralmente mais positiva e muitas vezes mais construtiva. Por exemplo, sentindo raiva e permitindo que a raiva dite a tomada de decisão, o pai critica o adolescente, o que aumenta ainda mais a sua sensação de perda. “Se eu não estivesse com raiva, encontraria algo no meu filho adolescente para elogiar.” Ou a mãe sentindo-se ansiosa, e permitindo que a ansiedade dite a tomada de decisões, expressa a sua preocupação, o que aumenta os medos do seu filho adolescente. “Se eu não estivesse ansiosa, eu expressaria confiança no meu filho adolescente, e sei que ele precisa do meu apoio.”

Aqui a questão não é negar sentimentos honestos. A questão é que, os pais ao agirem emocional e impulsivamente, tendem a piorar uma situação já difícil. Na maioria dos casos, é melhor dar tempo para julgar e ponderar.

Mudar positivamente o seu comportamento irá encorajar o adolescente a fazer o mesmo

Então, os pais com filhos adolescentes difíceis, presos numa interação comportamental negativa, que parece não ter escapatória, devem fazer outras escolhas: 1) devem contradizer positivamente a resposta (negativa) esperada pelo filho adolescente; 2) devem eliminar a influência emocional nas suas próprias decisões. Ou podem tentar uma combinação das duas.

Geralmente, uma mudança positivamente do comportamento dos pais encoraja o filho adolescente a considerar a fazer o mesmo.

Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta

© PsicoAjuda – Psicoterapia certa para si, Leiria

Imagens cortesia de kues1 e bearfotos em www.freepik.com e Jolee G em FreeDigitalPhotos.net

Sobre o Autor

Elisabete Condesso

Directora clínica da PsicoAjuda. Psicóloga clínica e Psicoterapeuta. Licenciada em Psicologia Clínica pela ULHT de Lisboa e com pós-graduação em Consulta Psicológica e Psicoterapia. Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos. Título de especialista em “Psicologia clínica e da saúde” atribuído pela Ordem dos Psicólogos.